Você sabe o que é ansiedade?
- Lari Pestana
- 2 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

Sabe o que é ansiedade?
É passar dois dias com um assunto na cabeça, doida pra colocar no papel, e não saber por onde começar. E sim, essa foi a melhor maneira que encontrei pra começar a escrever sobre esse assunto tão delicado. Muita gente ainda acha “bonitinho”, “engraçado”, “bobeira” ou até mesmo “frescura” quando alguém diz que tem transtorno de ansiedade. Acha que temos surtos só quando precisamos fazer uma prova importante ou uma entrevista de emprego. Mas não. Viver com ansiedade é conviver com o sentimento de que você não tem controle sobre o próprio corpo ou, pior, sobre a própria mente. Ter esse transtorno é acordar às 7 da manhã de um sábado pós feriado querendo resolver assuntos de trabalho e receber de volta mensagens grosseiras e maldosas porque a outra pessoa não sabe que isso vai te atormentar pelos próximos dias, semanas ou até mesmo meses. Pra não dizer anos… Porque ansiedade tem dessas. Não é só sofrer pelo que pode vir, mas é também sofrer pelo que já passou. É não conseguir controlar os sentimentos que você tem sobre uma pessoa que te magoou e nem percebeu ou simplesmente quer seguir em frente. Pra quem tem ansiedade, seguir em frente é praticamente uma piada. Aparentemente impossível. Visivelmente surreal. E deliciosamente satisfatório quando conseguimos. São raras as vezes. Mas conseguimos. Ter ansiedade é juntar 3, 10, 20 coisas ruins que aconteceram na semana (ou em apenas um dia) e tentar lidar com todos de uma vez, perceber que não é capaz e transformar tudo isso numa bola de neve gigantesca que te atropela ou numa enorme construção que despenca em cima de você. É não saber lidar. Com nada. E querer consertar tudo. E se sentir inútil quando falha. Inúmeras vezes. Porque somos humanos, e errar é humano, certo? Não para alguém ansioso… Para alguém ansioso é nem ter começado a tentar ainda e já acordar com dores fortíssimas de cabeça, enjoo, ânsia, diarreia, tremedeira (incontrolável, inclusive, que pode ir e voltar ao longo do dia conforme você se lembra das situações desagradáveis que ativam sua ansiedade), sentir vontade de voltar pra cama e lá ficar pelo resto do dia. E então lembrar que só faz 15 minutos que você acordou. Ainda tem um mundo lá fora e pessoas e trabalho e estudo e… uma vida a ser vivida. O que às vezes nos aterroriza, mas é necessário. A gente precisa viver. Temos pessoas, animais, casas e empregos que dependem da gente pra continuar existindo. Por mais que, muitas vezes, a nossa vontade seja de acabar com a nossa própria existência. É insuportável conviver com esses sintomas por vários motivos. Pelos sintomas em si… pelo fato de não conseguirmos explicá-los para outras pessoas… pelo fato de sabermos que existem pessoas em situações semelhantes ou piores e querermos evitar o sofrimento alheio por conta de nossos problemas, que muitas vezes nem nós mesmos conseguimos entender ou explicar… Aí podem acontecer duas coisas. Na melhor hipótese, o ansioso consegue ficar perto de pessoas que o entendem, acolhem e ajudam. Na outra, o ansioso se exclui, por achar que não vale nada, que só causa dano e não é importante pra ninguém. Amigos, trabalho, família, estudos… E adivinha qual é a situação mais comum? Resolvi escrever este texto pura e simplesmente porque tudo descrito aí em cima aconteceu comigo. Acontece comigo. Sempre. E essa semana, mais precisamente no final de semana, uma dessas bolas de neve resolveu me atingir mais uma vez. E foram poucas as pessoas que perceberam. Recebi mensagens maldosas que me fizeram ter todos os sintomas que descrevi. Recebi mensagens (MUITAS) dizendo “se acalma, não vale a pena sofrer assim” como se fosse fácil. É, vocês não falam isso por mal, mas se soubessem o mal que essas palavras nos causam… enfim. Também recebi mensagens de outras pessoas ansiosas que sabem realmente ajudar. E recebi mensagens aleatórias como um “oi” que fizeram minha taquicardia voltar com toda força, a cabeça doer e a tremedeira voltar. Tudo por conta de a pessoa resolver aparecer no momento errado. Eu sei que não sou a única que passa por tudo isso, inclusive essas outras pessoas ansiosas que escreveram pra mim foram as que me motivaram a escrever este texto. Quero muito que ajude vocês a entenderem que não estão sozinhos(as) nessa. Além de também tentar enfiar na cabeça de algumas outras pessoas que transtorno de ansiedade é coisa séria sim. E precisamos falar sobre isso tanto quanto precisamos falar sobre qualquer outro transtorno mental. Sem romantizar. Sem ignorar. Sem ironizar. Respeitem o tempo. Respeitem as limitações. Respeitem as vontades. Respeitem as pessoas.
~Larissa Pestana, 15/10/2017
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